(Value Investing leva Pequeno Investidor ao Radicalismo! - continuação)

Value Investing nas mãos do pequeno investidor

Para o pequeno investidor, a escolha entre as duas vertentes é essencialmente um questão de seus conhecimentos e do tempo que está disposto a dedicar a seus investimentos.

Se ele dominar a técnica de análise de múltiplos, e tiver acesso a uma base de dados, não encontrará muita dificuldade em montar uma carteira do tipo sugerido por Graham em seu livro mais popular (2).

Nestas carteiras a margem de segurança não é explícita, mas inerente à capacidade "natural" de ações de gerar, no longo prazo, retornos substancialmente acima da renda fixa.

São os tetos adotados no caso do P/L (histórico) e o preço/patrimônio líqüido que estabelecem a margem. Para diversificar o risco da empresa Graham recomenda uma carteira de pelo menos 15 ações.

Só que há um problema sério: em tempos normais, como mostramos no site, um investidor dificilmente encontrará, na bolsa de São Paulo, 15 papéis que preencham os critérios exigentes de Graham. Mal conseguimos identificar 10 ações no início de 1999, uma época de preços atipicamente baixos.

Mas, como descobrimos em nossas análises detalhadas de empresas, é a procura de "verdadeiras grandes empresas" que se mostrou o caminho mais frutífero.

Aqui a técnica chave é o método de fluxo de caixa descontado. É possível que o pequeno investidor não entenda os princípios envolvidos, mas aplicar as fórmulas desta técnica não está além de suas possibilidades se dominar a matemática básica. Mais problemático é definir critérios aparentemente simples como a taxa de crescimento futuro de lucro.

Nas palavras de Buffet (3): "A utilização de números precisos é, de fato, bobagem; é melhor trabalhar com uma faixa de possibilidades. Mesmo assim, normalmente a faixa é tão ampla que não é possível chegar a qualquer conclusão útil".

Mas como verificamos: "Ocasionalmente, no entanto, mesmo estimativas muito conservadoras revelam que o preço cotado está surpreendentemente baixo em relação ao valor calculado".

Aqui chamamos a atenção para outra característica da abordagem de Buffet: a utilização de uma taxa de desconto sem acréscimo do fator de risco sugerido pela modelo CAPM.

Se encontrar um número suficiente de ações para montar a carteira diversificada de Graham é difícil, descobrir mais de meia dúzia de papéis que satisfaçam a ênfase radical de Buffet é fora de cogitação.

Buffet avisa (4): "você descobrirá que poucas empresas se encaixam no padrão". E continua: "por isso, se descobrir uma, você deve comprar uma quantidade significativa de suas ações".

A conseqüência inevitável deste processo é uma carteira concentrada.

Radicalismo conservador gera alto retorno

A abordagem de Buffet é extrema porque, para descobrir as grandes empresas, é necessário vasculhar os intestinos das empresas que interessam. Mas isso tem suas grandes compensações.

Primeiro, o profundo conhecimento das empresas - aliado à sua disponibilidade com grande desconto na bolsa - limita o risco de uma carteira concentrada. É por isso que uma taxa de desconto sem risco faz sentido para Buffet.

E segundo, como grande desconto também suaviza o caminho do lucro, o retorno é grande. De fato, Buffet, mais uma vez, desafia a lógica do modelo CAPM que domina o campo de administração de carteiras: pelo menos no campo de Value Investing há aparentemente uma estreita relação entre conservadorismo radical e retorno.

Para terminar, chamamos a atenção a outro aspecto de nossas pesquisas. No início de 1999 as análises revelaram várias empresas de primeira linha que preencheram os requisitos. Mas na medida que a bolsa se recuperava estas oportunidades diminuíram. A maioria das recomendações recentes são empresas cujas ações exibem baixa liqüidez.

Embora papéis deste tipo sejam incômodos para um grande investidor, não apresentam nenhuma contraindicação séria para pequenos investidores de médio a longo prazo. Eles só possuem um defeito: em poucos casos o desconto identificado será totalmente eliminado.

Em compensação o investidor pode contar, ou com um ótimo yield de dividendo e ganho de capital modesto, ou com um yield razoável e um bom ganho de capital advindo de um preço que acompanha a taxa de crescimento de lucro. A possível diminuição do desconto fica como prêmio!

Roger John Maudsley MSc
4/12/01

Notas:
1 "Common Stocks and Uncommon Profits" Philip A. Fisher (Wiley)
2 "The Intelligent Investor" Benjamin Graham (Harper Business)
3 "Berkshire Hathaway Annual Report - Year 2000"
4 "The Warren Buffet Way" Robert G Hagstrom (Wiley)

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