FLASH DA EMPRESA
Vale do Rio Doce: segurança, liquidez E retorno
Data: 19/07/01
Preço da PN por 1000 ações: R$51800,00 Número de ações: 385,03 MM
Setor: Mineração Produtos/Serviços Principais: Minério de ferro e logística.

Desde sua privatização em 1997 o retorno da Vale tem triplicado. Como o preço não tem acompanhado plenamente a melhora, há uma oportunidade de obter liquidez, segurança e rentabilidade com um desconto.

Embora sejam prováveis resultados declinantes nos próximos trimestres - e o desconto oferecido pode até aumentar - recomendamos o papel como investimento de longo prazo.

                                                (dólares ajustados)
          
Ano                  1993  1994  1995  1996  1997  1998  1999  2000 2001P
=========================================================================
Receita Líqüida US$MM   0  4452  3600  4533  4692  4145  5292  6295     -
Lucro Líqüido US$MM   266   788   339   497   675   851   949  1408  1642
Pat. Líquido US$MM   6658 11858 10845  9835  8457  8027  7962  6976  7761
-------------------------------------------------------------------------
Lucro/Pat. Líq. %     4.0   6.6   3.1   5.1   8.0  10.6  11.9  20.2  21.0
Preço/Lucro x        15.7  14.4  24.8  13.5   9.9   5.7  14,2   8.6   8.4
Preço/Pat.Liq. %     63.0  95.0  77.0  69.0  79.0  6O.0 169.0 173.0 178.0
Margem Líquida %        *  17.7   9.4  11.0  14.4  20.5  17.9  22.4     -
Yield (Divi/Preço) %                                                  5.9
Payout (Div/Lucro) %                                                 50.0
Liquidez Corrente x     -     -     -     -     -   1.2   1.2   1.2     -
Dív.Liq./Pat.Líq. %     -     -     -     -     -  34.0  34.0  50.0     -
-------------------------------------------------------------------------
P - Projetado         Retorno/Patrimônio Liq baseado no ultimo PL disponível do ano (e não do
inicio  do ano); Preço/Lucro baseado no fim do ano para períodos encerrados e no preço atual
para períodos não encerrados; dados até  31/12/98  convertidos  em  US$ pelo câmbio do fim do
ano em questão, dados a partir de 31/12/98 convertidas pelo câmbio do 31/12/98 (US$1=R$1,21),
após reajustamento pela inflação. Somente as receitas e os indicadores financeiros se referem
aos balanços consolidados.

Peso de campeã

Em 2000, o lucro líquido da Vale de Rio Doce, de R$2,133 MM, foi o melhor de sua história. Com a produção de 120 MM t de minério de ferro, o grupo confirmou sua posição de maior produtora mundial deste material.

Agora, com a segunda etapa de sua reestruturação pós-privatização em andamento, a empresa está se preparando para tirar o máximo benefício de seu peso crescente no mercado global.

Minas gerais

Embora os investimentos da Vale em ferro e aço, e na associada infra-estrutura logística, gerem mais de dois terços da receita do grupo, a empresa possui outros negócios valiosos, principalmente na área da exploração e beneficiamento de minerais.

Por segmento, finos e pelotas de minério de ferro representaram 40% das receitas consolidadas no ano passado, serviços ferroviários, portuários e marítimos 16%, produtos siderúrgicos 12%, alumínio 11%, madeira, papel e celulose 8%, manganês e ferro ligas 6%, ouro 3%, e outros 4%.

Vendas para o mercado doméstico perfizeram 26% do total, exportações 60%, e vendas de empresas controladas e coligadas baseadas no exterior 14%.

Siderúrgicas e afiliadas de pelotização no Brasil foram o destino de 32% dos embarques de minério de ferro da Vale. A Ásia, com destaque para o Japão, recebeu outra parcela de 32%. E Europa, com 24% do total, foi responsável pela maior parte do saldo.

Ferro in; celulose out

A reestruturação societária em curso é impulsionada tanto pela confirmação de "mineração e transportes" como o foco estratégico do grupo, quanto pelo desejo de consolidar sua liderança mundial no segmento de ferro.

No último ano e meio a Vale tem comprado o controle de Samitri e Socimex (com produção anual, respectivamente, de 17 MM e 7 MM tonelados de minério de ferro) no Brasil e 50% de GIIC (pelotas) no Bahrain, no Golfo Pérsico. Junto com Samitri veio 50% de sua controlada Samarco, "a segunda maior exportadora de pelotas do mundo".

A aquisição pela Vale de 50% da Caemi, quarta produtora de minério de ferro do mundo, está enfrentando uma investigação pela reguladora européia. A agência está preocupada com o aumento em poder de mercado que a transação representa no continente.

Por outro lado, a empresa se desfez de suas participações em Sid Nacional e Açominas (aço), e Bahia Sul (papel e celulose). A venda de Cenibra (celulose) está em curso.

Lucros crescem a 20% a.a.

Agora consideremos a empresa a partir de uma perspectiva maior. Uma das vantagens de investimento de longo prazo é a possibilidade de passar por cima das dificuldades do presente.

Olhando para trás, verificamos que Vale exibe um registro de pelo menos 11 anos de resultados consistentes e ascendentes. Após ajustamentos, estimamos que vendas têm subido a uma taxa de aproximadamente 10% a.a. e lucros a quase 20% a.a., com destaque para os anos que seguiram a privatização em 1997.

Virando a cabeça em 180 graus, é difícil não vislumbrar um grande futuro pela frente. O problema do analista é quantificar isso.

Ferro vira ouro?

Não podemos supor que lucros continuarão a crescer ao dobro da velocidade das vendas. Os ganhos da privatização se esgotarão e o espaço para agregar valor ao minério de ferro, o principal produto da empresa, é limitado. Neste sentido, olhamos com certa desconfiança uma taxa de retorno de 20%: será que a mineração deste produto humilde pode ser tão lucrativa assim?

Este ano a Vale continuará a se beneficiar dos efeitos da desvalorização do real sobre suas receitas em dólar. Mas não fica claro se isso é capaz de contrabalançar o duplo impacto sobre a empresa do maior custo de sua dívida em dólar e a desaceleração na economia mundial.

Observamos que o fato de o fornecimento de minério de ferro ser regido por contratos anuais tem o efeito de atrasar o impacto de alterações no nível de demanda.

"Performance de difícil reprodução"

Existe uma oportunidade de investimento? Primeiro vamos analisar os "múltiplos" na tabela, cobrindo 8 anos de dados firmes. Aqui não dá para tirar conclusões apressadas.

Fazemos três constatações iniciais: há um aumento progressivo no retorno sobre o patrimônio líqüido, com a tendência acelerando no fim do período; há um aumento, menos uniforme, no preço/patrimônio líqüido, que também se acelera no fim da serie; e o preço/lucro atual é quase 40% abaixo da média do final dos 8 anos anteriores.

É razoável considerar a aceleração recente no preço/patrimônio uma reação ao aumento em rentabilidade. Entretanto, o fato que P/L tem caído tanto sugere que o mercado desconfia da consistência de um retorno de 20% a.a. A própria Vale avisa que os resultados dos últimos 4 anos representam uma "performance excepcional, de difícil reprodução".

Denominador traidor

Mas há um fator importante que distorce a análise: o declínio no patrimônio líqüido ao longo dos últimos 7 anos, presumivelmente causado pela baixa e amortização de ativos imobilizados. Entre 1994/1995 e 1999/2000 a queda chega a quase 35%.

Se corrigimos os indicadores atuais por este fator obtemos um lucro/patrimônio líqüido de 13,6% e um preço/patrimônio líqüido de 116% (o P/L não muda). São indicadores bem menos extraordinários.

Preço defasado

Atacando de outra direção, comparando o período antes e depois do ano da privatização (1997) para reduzir as distorções, verificamos, em termos grosseiros, que a rentabilidade média triplicou no segundo período, enquanto o preço/patrimônio líqüido médio subiu por somente 75%. O P/L médio, que perdeu 45%, confirma o quadro de lucro correndo na frente de preço.

Concluímos que o preço do papel não tem acompanhado plenamente a melhora em desempenho. Chutando, podemos dizer que a ação apresenta um desconto de talvez 50% em relação aos anos que antecederam a venda para o setor privado. É possível? Será que esta ginástica matemática, baseada em dados limitados, faz algum sentido?

Inevitável desaceleração

Vamos pedir uma segunda opinião ao Método de Fluxo de Caixa Descontado e tentar estimar o valor da empresa. O dado chave é a previsão de crescimento de lucro (e dividendos) na próxima década. Na última década, que representa um ciclo econômico completo, as vendas subiram 10% a.a. e os lucros 20%.

Infelizmente, como observamos, é impossível a tendência de lucros divergirem durante muito tempo da tendência de vendas.

Pelos números, há a impressão que uma previsão 10% a.a. para lucros durante o próximo ciclo econômico (adotada em nossa análise de 1999) seja conservadora. Mas ainda parece muita coisa.

Lembramos: i) que a maior parte do crescimento dos últimos anos foi devida, aparentemente, ao regime de musculação e emagrecimento aplicado após a privatização; ii) que durante a última década o crescimento mundial foi puxado pelo desempenho extraordinário dos Estados Unidos - uma locomotiva que agora entrou em marcha lenta.

Mas as boas novas não acabaram

Em contrapartida, há os benefícios "sinergéticos" do foco mais concentrado, o crescente poder de mercado, e a possibilidade de agregar valor através de novos investimentos em pelotização. Há também a crescente demanda chinesa por minério de melhor qualidade.

Finalmente, há a perspectiva de receitas de um novo segmento - o de cobre - engordarem o fluxo de caixa da empresa durante a segunda metade da próxima década.

Desconto de 35%

Vamos adotar a taxa de 8% a.a., caindo para 5% a.a. a partir do décimo primeiro ano. Para nossa base de lucro utilizamos o excelente resultado de 2000. Parece otimista, mas ainda há ganhos com a desvalorização a caminho. Nosso payout é 50%, abaixo da porcentagem dos últimos 3 anos. Como estimativa de taxa de desconto sem risco adotamos, controversialmente, o TJLP de 9,5%.

O cálculo produz um valor para a Vale de R$30.528 MM, significando que o valor de mercado de R$19.944 MM oferece um desconto de 35%. Se aumentamos a taxa de crescimento de lucro para 9% temos um desconto de 40%. E baixando-a para 7% temos um desconto de 28%.

O resultado aponta na mesma direção de nossa análise de múltiplos. Não é um desconto imenso mas não deixa de ser atraente no caso de um papel de primeira linha.

Segurança, liquidez e retorno!

Por um lado Vale é uma ação relativamente defensiva: suas receitas em dólar a protegem contra a inflação e a desvalorização; a diversificação destas receitas é um seguro contra retração em um ou outro mercado; e contratos de longo prazo e poder de mercado ajudam a segurar preço.

Por outro lado, como a ação é disponível com um desconto, o investidor não precisa abrir mão de retorno para comprar segurança. Melhor ainda o papel possui excelente liqüidez de negociação.

Desconto pode aumentar

O que podemos esperar de um investimento? Como é provável uma desaceleração nos lucros trimestrais nos próximos períodos, não vimos, no curto ou médio termo, muita chance de eliminação do desconto identificado. Pode até aumentar! Até se confirmar o fim da retração da economia americana, há ainda a possibilidade de queda de preço.

Em contrapartida, a análise sugere que o investidor pode contar com um retorno de longo prazo de pelo menos 14% a.a. em termos reais. No preço atual recomendamos para investidores com um horizonte de retorno de 2-5 anos.

Mande sua opinião!
E-Mail

Limitações dos dados apresentados

Primeira Página